Filme com 2 horas e 11 minutos de duração.
Diretor: Jean Jacques Annaud | Alemanha – França – Itália | 1986.
Sinopse: Em 1327 William de Baskerville (Sean Connery), um monge franciscano, e Adso von Melk (Christian Slater), um noviço, chegam a um remoto mosteiro no norte da Itália. William de Baskerville pretende participar de um conclave para decidir se a Igreja deve doar parte de suas riquezas, mas a atenção é desviada por vários assassinatos que acontecem no mosteiro. William de Baskerville começa a investigar o caso, que se mostra bastante intrincando, além dos mais religiosos acreditarem que é obra do Demônio. William de Baskerville não partilha desta opinião, mas antes que ele conclua as investigações Bernardo Gui (F. Murray Abraham), o Grão-Inquisidor, chega no local e está pronto para torturar qualquer suspeito de heresia que tenha cometido assassinatos em nome do Diabo. Como não gosta de Baskerville, ele é inclinado a colocá-lo no topo da lista dos que são diabolicamente influenciados. Esta batalha, junto com uma guerra ideológica entre franciscanos e dominicanos, é travada enquanto o motivo dos assassinatos é lentamente solucionado.
Opinião com Café.
Clayton Alexandre Zocarato.
Uma verdadeira aula de filosofia faz com que o expectador de “O Nome da Rosa” realize uma viagem psicodélica pelos subterrâneos da maldade humana.
A questão clássica entre razão e fé, eleva aqui a situações em que não sabemos distinguir o que é ou não desse “mundo maligno”, ou que venha a conter um caminho de ação divina voltado para o bem de todos.
Sua narrativa se passa no ano de 1327, em um mosteiro distante na Itália, onde ocorrem misteriosos assassinatos, atribuídos inicialmente a ações demoníacas, em virtude da ousadia de alguns monges de irem buscar um “saber maldito”, que não esteja de acordo com a consciência e as vontades da cúpula clerical, porém atribuída as vontades de Deus.
No centro de seu enredo, o ator escocês Sean Connery (1932), interpreta um monge “franciscano” William de Baskerville, que busca através do uso da razão e da argumentação lógica chegar ao autor de tais crimes, contando com a ajuda de um noviço, Adso de Melk (Christian Slater – 1969), vão de encontro contra os desígnios da rigidez da Igreja de Roma, e coloca em evidência muito de seus dogmas, como a questão do “riso, considerado uma ofensa aos princípios divinos”, e da “pobreza e humanidade de Cristo”, frente ao uso da dialética (fluxo e movimento de pensamento), defronte as maldades humanas.
Ao longo de seu desenvolvimento, outras figuras “exóticas e macabras” surgem na pele de atores consagrados, como o irmão “deformado fisicamente e tratado como aberração Salvatori vivido “Ron Perlmann” (1950), dos longas, “Hellboy” (2004 e 2008) e das séries “A Bela e a Fera” (1987 – 1990) e “Sons of Anarchy” (2008 – 2014), Benardo Gui implacável inquisidor, a cargo de F. Murray Abraham (1939), de “O Último Grande Herói”(1993) com Arnold Schwarzenegger (1947) e vencedor do Oscar de 1984, por “Amadeus” (1984) do diretor tcheco “Milos Forman” (1932).
O horror da morte, e o medo de não vir a ser salvo durante o julgamento final, expõem um caminho cinematográfico recheado em combater o fanatismo religioso, coloca questões centralizadas no sentido “do ousar pensar”, contra a vontade da maioria, e a conter uma capacidade de inteligência crítica, que possam estarem unidas tanto no aspecto da “crença em algum ser superior”, como no respeito pela cultura adversa, existente no cotidiano da maioria das pessoas.
Um forte ressentimento de deboche, ao “Cristianismo Católico”, esboça a questão do pecado, e a forma do que ele é combatido pelas mãos de ferro do Tribunal do Santo Ofício (Inquisição), levanta um caminho para apontamentos de como Deus pode estar satisfeito vendo seus filhos praticarem maldades contra seus “semelhantes”?
Ou se o próprio “todo poderoso” perdoa todos incondicionalmente, porque as chamas sagradas da fogueira dos “autos de fé” (procissão de queima dos que eram considerados hereges, ou seja assediados e possuídos pelo demônio) tenham que consumir, aquele que não é bem visto, ou não seguiu as normas implantadas por uma pequena fração de comissariados do alto escalão da hierarquia católica, se submetendo as suas vontades, fazendo ações de barbárie extrema, agindo em nome de Deus?
O controle da informação e do desenvolvimento intelectual é algo que faz um jogo de conflitos, entre a obediência aos “dogmas do cristianismo”, como a uma manipulação do que seja ou não considerado pecado, para há maioria das pessoas destinadas em sua existência, a pagar seus dízimos, indulgências (taxa financeira para que seus erros possam serem perdoados) e tributos, para manter as regalias de uma pequena parcela do “clero” (membros da alta cúpula da igreja, como bispos e cardeais), indo contra os princípios, de uma atividade intelectual que venham, a se distanciarem da lisura a uma vida simples, aplicados ao bem-estar do próximo, e na construção de ideologias, de igualdade entre as, mas diferenciadas classes sociais.
O desejo carnal tão veemente ultrajado, com a presunção sexual sem ausência de afeto, deixa uma construção narrativa, no combate entre um domínio da inteligência perante a submissão, ao “pecado da carne”, tanto que Adso representa a inocência jovem, diante a descoberta do “amor”, bem como o prazer sexual, sendo alvo para uma análise do expectador, entre os conflitos, da inocência no sentido de amar incondicionalmente, independente da origem do seu parceiro, e do grupo de pessoas a quem deseja transferirem tais aptidões individuais de carinho, bem como no egocentrismo em se tomar posse do “outro”, como sendo propriedade única sua, não havendo espaço para uma ação da liberdade de expressão, ou como o desejo universal de vim a ser dono do seu próprio destino, aquém das necessidades em se compartilhar a vida com seus semelhantes, e posteriormente como algo de servidão aos desejos divinos.
O “amor” é um grande enigma em “O Nome da Rosa”, seja ele ao saber, como arma as tiranias organizadas por grupos de pessoas que somente zelam pelo seu bem-estar, como o “amor egoísta”, que não abre mão da posse de algum “ser, humano ou espiritual”, como um escudo para fugir dos desatinos que a solidão possa vim a oferecer.
O conflito entre monges “beneditinos (monges doutrinadores objetivados, no ensino da palavra cristã e sua pregação) e franciscanos (preocupados ao trabalho social e a aproximação da igreja aos pobres)”, bem como a investigação empírica perante a onda de assassinatos na abadia onde se passa trama, feita por William de Baskeville, submete que não basta uma crença em algo metafísico (além da matéria), e sim, levar uma criticidade como forma de fazer entender, no que se acredita e no que se pesquisa, levando o “conhecimento filosófico e científico”, como um utensílio a ajudar as pessoas e a promoverem reflexões acerca do seu papel humano em torno da sociedade, e como o “indivíduo” pode agir para a construção de um mundo melhor, e não ficar restrito a uma intelectualidade, destinada unicamente a produção de conhecimento restrita a especialistas universitários.
Usando de dois pensadores com mais de dois mil anos distantes a seus períodos históricos relacionados à suas existências, Sócrates (469 –a.C – 399 –a.C), “na questão do conhece a ti mesmo”, e Bertrand Russell (1872 – 1970) “em sua afirmação da liberdade de acreditar e agir do indivíduo”, é que devemos nos questionarmos no máximo possível para saber no que cremos, não porque temos que crer em algo, e sim que nossa suposta crença, nos faça arguir sobre os mais diversificados dilemas que formam uma “vida ativa”, tanto socialmente, como intelectualmente e moralmente.
Baseado no Best Seller do escritor e pensador italiano Umberto Eco (1932 – 2016), “O Nome da Rosa” é uma viagem, em como a literatura pode servir ao cinema, e transformar ambas, em um porto seguro para adornar mentes questionadoras, envolvidas no cunho do que, ou não se pode “acreditar”, independente da sua situação histórica, como filosófica, e em relação ao contexto social que esteja vivendo.
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