Sempre fizemos nossas entrevistas de forma escrita, recentemente conversamos pelo WhatsApp com o Valu Vasconcelos, e a entrevista ficou tão legal que resolvemos transformá-la em um podcast.
Essa é nossa primeira matéria nesse formato, então pedimos desculpas por eventuais erros. A entrevista tem 35 minutos e eu irei transcrever alguns trechos para você. Mas escute na íntegra ou baixe ela para ouvir em algum momento propício. Tem muita coisa bacana que deixarei só para quem for escutar ela.
Ao lado das questões deixarei um guia de tempo para você se localizar nas perguntas. Então, sem mais delongas.
00:20| 1 – Vagner, de antemão o HQ’s com Café agradece pelo tempo disponibilizado, e nada melhor do que começar perguntando um pouco sobre você e sua vida profissional.
Meu nome é Valu Vasconcelos, eu desenho desde sempre. Hoje estou com 43 anos. Profissionalmente eu desenho desde 95/96, comecei animando no Corel Draw. Em 2001 eu abri meu estúdio, trabalhei com publicidade e coisas do gênero, em 2005 eu passei a focar em animação de personagem e fazer conteúdos próprios. Em 2010 a gente fez uma série chamada Jarau que foi lançada inicialmente na TV Cenário, depois foi para TV Brasil, depois focamos em melhorar as habilidades do estúdio, quantidade de produção e tempo.
Também produzimos uma aventura infantil pré-escolar, chamada Poti e Andaluz, logo em seguida começamos a pensar no nosso próximo passo, que foi a franquia Megasônicos, primeiro ela virou um mangá digital, muitos anos depois virou um lançamento físico (2016) e nós começamos publicar nossa web-série | Megasônicos – Nova Geração | nós lançamos um episódio por semana. Essa foi minha carreira de forma muito resumida e rápida.
3:25 | 2 – O Megasônicos é formado por crianças, de onde surgiu a ideia para tal projeto?
O Megasônicos começou a ser formado na minha cabeça quando eu comecei a fazer computação gráfica (96/97). A tecnologia de modelagem era voltada para Scanners milionários, impossíveis para pessoas com pouco dinheiro. Como eu na época. Então comecei estudar uma forma de transformar essa impossibilidade em possibilidade, e descobri que esses Scanners pegavam ponto a ponto e iam jogando esses pontos para o mundo virtual. E fazer pontos eu conseguiria. Assim que conseguimos fazer o primeiro comercial de TV, eu quis fazer um curta, (as duas primeiras tentativas falharam) na terceira tentativa ficou do meu gosto. Sempre fui ligado em esportes radicais, o formato mudou muito, era para ser do presente, foi para o futuro e eu comecei trabalhar futurologia. Na época o nome era “Megasônicos – O Poder da Imaginação”. Esse nome era excelente para crianças, pois tudo que você pode imaginar você pode conquistar. Foi dai que veio o Megasônicos.
6: 16 | 3 – Fale um pouco sobre o Dito, personagem que vai participar do projeto ALFA.
O Dito vem de família pobre. É um garoto focado no que faz, estuda em uma escola municipal de Ipanema (tem um pouco da minha história). É obstinado e honesto, isso faz com que ele tenha tenacidade em competições, pois ele não trapaceia e tem que convencer pela habilidade extrema. Se tornou um líder por isso. É um garoto muito bacana. Tem como objetivo ser campeão de esportes ultrarradicais.
7:38 | 4 – Qual sua expectativa para esse projeto?
Isso é um projeto revolucionário, muita gente achou que não daria certo na primeira edição (A Ordem), e foi um sucesso, passou pelo Catarse e as pessoas gostaram do que leram. Ela foi feita com muita qualidade, e a segunda tende a ser melhor, maior e mais ousada.
Na época eu fui um dos apoiadores, estava começando minha amizade com o Elenildo, só que os caminhos eram diferentes, depois de muito tempo estreitamos os caminhos e a entrada dos Megasônicos foi natural.
É uma oportunidade de ligar o futuro (Megasônicos se passa em 2034) ao presente. Assim conseguiremos expandir mais a trama. Acredito que o projeto é um passo grande para que o mercado faça algo diferenciado, juntar artistas de todo canto do Brasil com um objetivo em comum, e compartilhando o trabalho do outro. Esse tipo de união ainda falta com os editores e artistas de quadrinhos brasileiros, então estamos formando uma confraria com um novo tipo de pensamento onde a colaboração e compartilhamento de informações se torna uma passo fundamental para que todo mundo cresça junto.
10:28 | 5 – O bacana do Megasônicos é que além das histórias em quadrinhos existem animações, quanto tempo leva para a produção de cada episódio?
O Megasônicos nasceu como animação, mas a tecnologia e o custo não ajudavam, então transformei ele em jogo. Depois virou HQ/Mangá. Fiz a versão online, mas com o tempo eu desanimei, pois a internet não era o que é hoje. Voltei para animação para fazer outros projetos, mas nunca esqueci do Megasônicos, voltei esse ano com a HQ impressa. A animação também voltou com força total, só que veio como projeto paralelo, mas não posso te dar uma resposta exata. A gente pega o trabalho, faz o jaba aqui no estúdio, eu pago os funcionários e o tempo que sobra eu pago eles para animarem junto comigo. Se tudo der certo vou tentar fazer com que isso seja regular. Então eu poderei te dar uma resposta mais concreta, geralmente um episódio demora entre um e dois meses, dependendo de que estágio você está da produção, como eu tenho cenários e personagens prontos ele demora esse tempo, se tivesse que pré-produzir ele teria um tempo maior.
13:42 | 6 – Sabemos que você ajudou a produzir a série Jarau, para TV Brasil. Como foi o processo de criação e o seu envolvimento com essa série?
Eu fui o responsável pela série. O Marco Teixeira chegou no estúdio e falou que tinha um sonho de fazer uma série. Ele tinha um livro (Do You Understand) que tinha uma história sobre os filhos dele e sobrinhos. Isso me dava um rumo certo de que a produção era possível e era bacana. Falei que ia pegar o projeto aproveitar alguns nomes e mudar toda história. O projeto durou um ano e três meses, transformamos um projeto impossível em uma série que é o carro chefe da TV Brasil (campeã de audiência). Descobri esse mês que esse foi o primeiro desenho de super-heróis brasileiros já feito.
17:11 | 7 – O que esse trabalho na TV Brasil te agregou de conteúdo?
O Jarau é uma produção independente. Ela foi uma coisa bacana no sentido de levar à discussão que eu coloquei no texto do Jarau para o mundo. Abordo bullying, preconceito, drogas e morte, de forma que fica diferente de um desenho animado normal. A TV Brasil comprou essa ideia e a resposta foi bacana. Ele é o campeão de cartas e Email no horário, para o bem e para o mal (risos). Então eu consegui falar livremente sobre diversos temas polêmicos. Isso foi o grande beneficio de trabalhar com a TV Brasil e não na TV Brasil.
19:53 | 8 – Valu, você tem outros heróis ou histórias? Existe mais algum projeto em andamento? Ou seu foco é total para o Megasônicos?
Tenho uma animação chamado “Quest”, tenho o roteiro de 12 episódios de 22 minutos para o futuro. Estou fazendo um pré-escolar chamado “As Aventuras de Poti e Andaluz”, que é sobre um herói mirim que tem o sonho de encontrar o caminho da felicidade, então ele viaja por todo o universo passando por algumas aventuras e levando a felicidade para outras pessoas.
Também estou fazendo uma revista para o final de 2017, ela vai focar em uma favela, na cultura afro-brasileira. Vai ser sobre um anti-herói que tem poder vindo dos Orixás. Uma forma que pouca gente explorou, pois tem medo de falar de cultura afro. Esse herói é um chefe do tráfico, só que ele é obrigado a salvar pessoas, pois o poder dele dá uma punição se ele mata ou fere pessoas inocentes.
21:55 | 9 – Bom, sei que seu tempo é curto, então não vou tomar mais ele. Deixe suas redes sociais pra galera.
Eu faço duas lives por semana nos meus canais do youtube. Megasônicos br onde faço animações, pinturas de capa… vai ao ar toda segunda-feira às 22:30.
De quarta-feira eu faço uma live no Valu Animation Studio, onde estou animando uma série, então eu crio e animo ao vivo.
Tenho o site, valu.com.br. Também tenho o megasonicos.com.br, lá tem jogos, revistas e agora vai sair as camisetas do Megasônicos. Irei fazer um jogo para mobile (ação), já tenho um preview, se quiser pode mandar um email para [email protected] para receber o jogo.
Estou sempre em eventos no Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense, e nas nas redes sociais: Snap: Valuanimation | Insta: Valuanimation
E quem quiser, eu lancei um curso sobre animação, dá pra aprender do zero até fazer uma animação mais complexa de corpo inteiro.
23:07 | Valu, foi um grande prazer falar com você, muito obrigado. Nossa equipe agradece imensamente, se um dia precisar do nosso site, ele estará de portas abertas e se você quiser deixar mais algum recado, a casa é sua.
Agradeço pelo espaço, a gente precisa disso, de que alguma forma a audiência chega até nosso trabalho. Tem gente que fala que nosso mercado é ruim para trabalhar, eu tenho uma visão inversa, acho que as pessoas não tem a oportunidade de escolher porque não conhecem nosso trabalho. Estava na gibizeira, do lado do Stand do Batman e Superman, uma criança viu um toten do Dito Terrine e quis comprar, a irmã falou: – “Olha o Batman, olha o Superman, eles são legais”. Mas o garoto quis o do Megasônicos. Então se a criança/adulto tiver a oportunidade de escolher, isso é um jogo justo. Entrar nas feiras é bacana, esse espaço que você está dando é muito legal, pois as pessoas nem sabem que existem heróis nacionais. Eu e o pessoal do Jou Ventania estávamos no AnimeStar, chegou um garoto de cerca de 12 anos e olhou para o Megasônicos e perguntou o que era. Falei do que se tratava e o olho do garoto começou brilhar de saber que existem heróis nacionais. Então esses espaços são muito importantes.
30:03 | Você não é a primeira pessoa que escuto falar isso, uma vez o Juliano Rocha me disse a mesma coisa. O cenário brasileiro tem uma questão de um não divulgar o outro, com medo do sucesso alheio.
Sim, concordo com você. A nossa galera fala que nossa industria é ruim. Mas nós não temos nem indústria. No mercado o único título que tem periodicidade é o Mauricio de Sousa, e uma industria não dá para ser feita só com o Mauricio de Sousa. Acredito que se cada quadrinista fizesse um post indicando um quadrinista que não seja ele ou um amigo dele, seria transformador. Pois ele faz isso com a Marvel, DC, Vertigo… e eu duvido que ele faça isso com um colega dele, quando isso acontecer, nosso cenário muda.
31:50 | Também acho, sim, nosso cenário é desvalorizado, mas tem gente que não trabalha o suficiente para aparecer para o grande público. Se a galera se unir, dá para chegar longe.
Eu estava falando sobre crowdfunding (financiamento coletivo). Faço parte de um grupo chamado: “Secreto grupo de animação”, tem 4 mil membros, imagine se cada um desse cinco reais para um crowdfunding… mas ele não faz isso, ela acha que no Brasil as coisas tem que serem feitas de graça. Isso criaria um mercado. Se um garoto quiser ser desenhista hoje, ele vai trabalhar onde? Então, se você investir no mercado nacional, você gera empregos, periodicidade de trabalhos… e o garoto poderia trabalhar no Brasil Comics, no Valu Animations.. mas ele não vai porque a grande maioria do povo brasileiro prefere comprar uma coisa da Marvel.
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