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Shiki Oriori é uma animação de adulto feita pra criança

Normalmente não falo sobre obras que não gosto aqui no site. Mas, você que é nosso leitor, sabe o quanto prezamos pela nostalgia. E quando uma obra tem esse tema, vejo uma grande necessidade em comentar, gostando ou não.

Pois bem, Shiki Oriori: O Sabor da Juventude é um filme de 2018, com 3 histórias distintas, todas focadas no passado. Todas com aquele gostinho de nostalgia.

A primeira história mostra Xiao Ming, um homem que foi morar em Pequim. Mas o personagem não esquece de sua infância, principalmente de um prato de macarrão bifum que comia com sua avó. Xiao Ming em todo o momento relembra desse macarrão bifum. Chega ser enfadonho. E olhe que o longa tem apenas 1 hora e 14 minutos, sendo que esse tempo é dividido em 3 histórias.

Uma história rasa que não gera empatia suficiente. Se seus pensamentos se assemelham com os meus, não recomendo que assista esses primeiros minutos do filme.

A segunda história (“Nosso Pequeno Desfile de Moda”) é melhor. Yi Lin e Lulu são duas irmãs que perderam os pais. Yi Lin é a mais velha. Ela é uma modelo famosa. Sua irmã está começando desenhar alguns vestidos.

Novamente, Shiki Oriori é uma animação de adulto feita pra criança. Esse segundo enredo tinha tudo para um grande desenvolvimento. Talvez merecesse até um filme solo.

Temas como: crescimento sem os pais, relacionamento entre irmãs, aceitação do próprio corpo, traição, preconceito… tudo isso daria para ser abordado, e foi. Mas todos pincelados brevemente. Tão brevemente que não causou impacto algum.

Agora, se eu pudesse te dar um conselho, seria: assista só o terceiro enredo (talvez o segundo, se não tiver nada para fazer). Amor em Xangai é o nome da última história, ela mostra Li Mo. Um rapaz que ao mudar de residência encontra uma fita cassete. Nela estava a voz de Xiao Yu, o seu amor na infância.

Se você for assistir, para de ler o post aqui, comentarei o final do filme.

A partir desse momento temos o desenrolar da trama. Voltamos um pouco no tempo, vemos as duas crianças apaixonadas. Sabe aquelas paixonites infantis? Eu não falo que gosto de você, você também não fala nada, mas todo mundo sabe, inclusive nós.

O desenvolvimento é doce, sútil e, graças ao amor, os dois se separam. Xiao Yu é obrigada por seus pais a fazer uma prova em um faculdade distante, com medo de perder Li Mo, ela reprova.

Li Mo, por sua vez, com medo de perder Xiao Yu, se esforça e presta tal prova, sem contar para ela, na expectativa de fazer uma surpresa.

Seria cômico, mas é trágico. Foi a falta de diálogo que ocasionou isso. Li Mo estava tão interessado em estudar que nem escutou a última fita que Xiao Yu enviou. Nela a pobre garotinha abriu seu coração.

Li Mo não quis ouvir, ele tinha que passar, ele precisava, ele não podia perder ela (apesar de não assumir).

Xiao Yu não podia passar, ela tinha que ir mal, ela não podia perder ele.

O tempo é cruel e os enredos de nossas vidas não são cinematográficos. Por isso meu gosto por vida real, mesmo que seja na ficção. Amor em Xangai é 90% disso.

Temos relacionamento abusivo dos pais, humilhação causada pelos próprios familiares e um destino que ninguém previu, pois a vida assim é.

Mas, novamente, Shiki Oriori é uma animação de adulto feita pra criança. No mundo real aconteceria igual aconteceu com Jim Jinkins, criador de Doug Funnie:

“É a minha reunião de dez anos e eu não fui. Eu recebi um telefonema em Nova York, é a Paty. A verdadeira Paty. E meu coração está batendo rápido. Ela disse: ‘Eu estava na reunião! Você não foi! E eu estava tipo, ‘sim… desculpe… eu tive que trabalhar’. E ela diz: ‘Descobri que você mora em Nova York. Adivinha o que, eu também! E ela me disse onde mora. Vivíamos em lado opostos do Central Park. E ela diz: ‘Por que você não vem jantar?’

Então agora estamos em um show do Doug. Eu estou tipo, o que eu uso? Como ela vai parecer? Tudo o que está acontecendo enquanto estou atravessando o Central Park até o apartamento dela, apenas imaginando e esperando, todas essas coisas. Eu estava, na época, muito disponível.

Eu chego até o apartamento, subo e ouço a fechadura virar – está se preparando para acontecer – e ela abre a porta, e ela é perfeita. Simplesmente perfeita. Ela parece espetacular e feliz. Seus braços voam para cima e nós nos abraçamos.

Ela dá uma volta e diz: ‘Olha Jimmy! Seios! Eu ganhei meus seios!’
E eu tipo ‘Sim… sim, uhum’. E ela: ‘Eles costumavam me chamar de Paty Plana, mas olhe!’

E ela era engraçada, divertida e inocente, mas é como se Doug e Paty estivessem juntos novamente, dez anos depois, certo?

Então tudo isso é maravilhoso, certo? E então ela roda e diz: ‘Oh, Jimmy, quero que você conheça meu marido.’

A vida é bem assim mesmo. Ela toma seus caminhos e escreve sua própria história.

Amor em Xangai me decepcionou pelo final. Ali os dois se encontram, e o que fica no ar é que “viveram felizes para sempre”. Só que já dizia um velho poeta: “o pra sempre, sempre acaba”.

Não deixe de conferir.

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