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HQ’s Entrevista | Doutora Regina

Uma entrevista com a psicóloga com formação pela Universidade Estadual de Londrina, e doutorado pela Universidade de São Paulo – Campus de Ribeirão Preto, Regina de Cássia Rondina, e pesquisadora da Unesp  de Marília-SP, sobre o papel do psicólogo na contemporaneidade e a saúde mental do brasileiro em tempos de crise.

Agradecemos em especial as perguntas feitas pela acadêmica Jéssica Braz Gobetti, pela contribuição a essa entrevista

1-) Pensando em sua formação acadêmica, você já deparou com mudanças nos dias atuais em que seu paradigma de aprendizado não lhe foi apresentado ou ensinado? Se sim, você pensa que essas mudanças deveriam ser, inclusas na formação acadêmica do psicólogo?

Sim. Eu me graduei em 1990. Na época, a formação em psicologia não abordava a questão dos transgêneros, por exemplo.

Recentemente, o Conselho Federal de Psicologia passou a emitir diretrizes nesse sentido. Creio que a grade curricular dos cursos de Psicologia deveria incluir, necessariamente, a abordagem  mais ampla acerca do assunto, atualmente.

2-) Em sua opinião, o papel do profissional da psicologia está mais para prevenção ou orientação, em relação aos problemas comportamentais enfrentados por boa parcela da população brasileira hoje?

Sem dúvida, ambos. Aliás, não é possível separar as duas dimensões completamente. Uma retroalimenta a outra.

 3-) Partindo do código de ética do psicólogo, alguma vez em sua atuação acadêmica ou profissional, você se viu na previsão imediata de intervir em algum caso e romper com um código para envolver terceiros (família, polícia, etc), por conta de algum tipo de risco para o paciente ou para outra pessoa?

Não houve situação tão extrema.

4-) A psicologia é um caminho ou um dilema epistemológico? Como empreender uma abordagem lúcida e clara na prática clínica ou em outras áreas de sua atuação na sociedade civil?

A palavra-chave, me parece ser a constante atualização do profissional em adotar uma postura abertura a novos conhecimentos. Atentar para a interdisciplinariedade e para o crescente avanço do conhecimento das neurociências.

Em especial, a intersecção entre a Psicologia (em diferentes abordagens) e a neurociência cognitiva me parece crucial para a atuação do Psicólogo, em diferentes áreas.

5-) Em sua atuação acadêmica – profissional, quais foram as limitações enfrentadas e como você agiu diante delas?

Um dos maiores problemas é a necessidade de encaminhar  pacientes, necessariamente, para avaliação psiquiátrica e/ou avaliação médica geral, paralelamente à psicoterapia.

Muitos pacientes não tem condições de pagar profissionais particulares e a lista de espera na saúde pública é interminável e a qualidade dos atendimentos, às vezes  é questionável.

6-) A Psicologia seria a profissão do futuro ou futuro é agora?

Ambas.

7-) Ao longo de sua formação, houve algum momento em que pensou em trocar de curso?

Durante a graduação,  sim.

Mas por questões financeiras, necessidade de trabalhar. O curso de Psicologia era de período integral, o que dificultou muito.

8 -) Qual o objetivo da psicologia na contemporaneidade?

Múltiplos.

9-) Quais foram as maiores dificuldades enfrentadas dentro de seu ambiente acadêmico – profissional?

Principalmente, as críticas e posicionamentos teóricos  de profissionais de áreas  afins e/ou de outras áreas.

Fazem críticas e questionamentos  , às vezes,  sem conhecimento  devido acerca da Psicologia e em especial, das abordagens comportamentais e cognitivo comportamentais.

10-) A Psicopedagogia Institucional e Clínica conquistou muitos adeptos, mas ainda carece de uma clareza de legislatura para sua atuação, como conciliar a formação do psicólogo com a atuação do psicopedagogo?

Penso que esta questão esbarra mais em questões normativas / legislativas.

Creio que deveria haver diretrizes mais específicas  nos conselhos,  sobre  a formação e atuação de Psicopedagogo, diferenciando  mais  detalhadamente  o que é prerrogativa da atuação de psicólogos, o que cabe ao Psicopedagogo e o que pode ser realizado por ambos.

11-) Em sua opinião, há algum tipo de preconceito que psicólogo enfrenta no cotidiano, decorrente de alguns, em relação á sua atuação profissional?

Infelizmente, o senso  comum ainda mantém  a noção de que psicólogo é coisa para  “loucos”.

12-) Em meio a esse cenário de crise moral, institucional, ética, política e econômica do Brasil e do mundo, como o psicólogo pode intervir para um melhor entendimento dos fatos perante a opinião pública?

13-) Em sua opinião, como anda a saúde mental do povo brasileiro de uma maneira geral?

Muito ruim.

Pesquisas sugerem que a prevalência de diferentes transtornos mentais é elevada, entre os brasileiros.

Faltam mais  políticas de prevenção e assistência em saúde  mental. Somado a isso,  falta conscientizar  a população como um todo, sobre a importância de  adotar estilos de vida que contribuam para saúde física e mental, tais como dieta equilibrada, prática de atividades físicas, sono regular, entre outros.

14-) Psicólogo? Salvador ou Profeta? Como sair desse caráter do senso-comum ligado a atuação do psicólogo, e validar de maneira geral sua cientificidade?

Talvez  os profissionais devam  investir mais em divulgar, via  meios de comunicação de massa, como são produzidos e utilizados os conhecimentos da Psicologia enquanto ciência, como é a formação dos profissionais, entre outros aspectos, em linguagem acessível  à população em geral.

Entrevista realizada por Clayton Alexandre Zocarato e Jéssica Braz Gobetti.

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