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Euro-Cine | A Queda: As Últimas Horas de Hitler

Eu vou dar sensações negras pela sua espinha

Se você gosta do mal, você é meu amigo

Veja minha luz branca brilhando enquanto despedaço a noite

Se os bons estão na esquerda, então me viro pra direita

Não faço prisioneiros, não poupo vidas

Ninguém vai lutar

Eu tenho meu sino, vou te levar para o inferno

Eu vou te pegar, Satanás vai te pegar.

(AC DC – Hells Bells)

Adolf Hitler (1889 – 1945), não se atesta unicamente em vim a conter um traçado da mais pura bizarrice cultural e política pelas quais a humanidade se encontrou, e sim traça um perfil de como a loucura ganha contornos a um lunatismo de opiniões contendo pinceladas de coesões em realizar na ignorância, algo que faça do medo algo sanado a construir nas mais doentias introspecções da carência, uma ética perante o rumo do improvável a se tornar provável.

Nesse impasse, “A Queda” não se trata unicamente de retratar a ardência neurótica do III Reich, e sim como o ícone maldito do ditador alemão subleva e muito a questão do real se tonando um império ao qual a luxúria, pode vim a atribuir um artefato humanístico ao qual se realize no espectador, a ascendência de pequenos “fuhres” em torno da condução maléfica de um “hobbesianismo” contendo o escárnio de negar a humanidade como um templo de ações dialéticas que produzam uma volúpia cultural de aceitar o que é inaceitável, e de consagrar a intolerância como primogênito dos desejos mais mórbidos que aguçam a mente humana.

Karl Menninger (1993-1990), psiquiatra norte-americano traça um perfil da “mente doentia”, em realizar ações de movimento idealístico, ao contrário, ou seja, levando a uma profissão tenebrosa de comportamentos que se, consideram, normas na explicação de perjúrios aos quais, a sanidade está lentamente sendo substituída por momentos de uma historicidade em engrandecer o desejo no que o lado demoníaco das pessoas enfoca, uma arte que coagule elementos do respeito e de compaixão pelo mundo, em que o homo-sapiens se proclama gerenciador, de um modelo perante os princípios outorgados pelo “carpinteiro de Belém” são deixados de lado literalmente.

Um “Cesar”, sem graça, e apoiado por uma “arte da guerra” ao qual um Sun Tzu (544 a.C – 496 a.C) sentiria vergonha, em se confundir luta filosófica com barbárie, o ator Bruno Ganz (1941) deixa evidente dentro a de sua interpretação um paradoxo entre a fraqueza subjetiva,  com rusgas epidemiológicas comportamentais a traçar uma compreensão do que não esteja ao alcance da ciência em entender como Adolf foi possível acontecer e empreender suas concepções estatais doentias.

A depressão do líder nazista, com a flagelação de uma Alemanha que sangra, como uma chama constante, jorrando hipocrisias, que pagam pela sua petulância durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), deixa um sabor amargo ao qual o poder é um espectro, generalizante, que se volta contra seus rebentos à hora que bem entender.

E com isso a ideia de se estudar e atrair novas mentes, em se libertar para os vaticínios implacáveis, que a brutalidade do Nazismo possui (Alá Nostradamus 1503-1566), não vai precisar de águas límpidas para se enxergar um futuro de medo, perante a preguiça alheia a lançar novos caminhos de luz perante a política, que destrua artefatos para uma criticidade que não se enxergue apenas a si próprio, e sim que veja que o “suposto bem do momento vivente”, pode causar um paralelo de efeitos colaterais nefastos para arquitetar um conluio de ideais que possam conter de forma clara e objetiva, uma sanidade que atente ao beneplácito de toda uma população iludida, por promessas que serviram apenas para colocar interesses dementes de conquista na condução dos negócios de Estado.

Aparentemente Estado é o que menos interessa para Hitler, e sim fazer de seus atos de exceção, um caminho para uma destruição de um “eu racional”, que seja sacralizado, em elaborar condições para uma ação, que esteja pautado em sua imagem pessoal, bem como um paralelo a uma conjectura da cultura como uma reeducação da maldade, auspiciando caminhos de destruição de uma ética de compromisso pelo próximo, como um “Calígula moderno” (12-41), mas sem psicose de fazer do prazer algo que venha determinar os caminhos para um governo sancionado, nos vícios de almejar distúrbios do respeito pelo próximo.

O próximo!

Um termo ao qual eleva uma benção de atos irrisórios, de uma bioenergia ao qual tudo se pode fazer, em nome da movimentação da maldade, transmutando, para uma tradução de dígitos do semblante demoníaco de uma acultura passando a ser utilizada como trocadilho entre o que pode elencar como verdade ou mentira.

A verdade das mentiras, ou mentiras de verdades?

Será que a queda do monstro deixou um desatino para a posteridade onde o homem se faz necessário a agarrar na maldade, para sustentar o peso de sua nefasta existência, no sentido de respeito a uma inteligência ornamentada em inconsciente a reclamação do que não pode ser exclamado?

Enquanto as marcas dos campos de concentrarão e de toda sequela de um ato psicológico distorcido, pela inutilidade de vícios da demência humana em desacreditar em si própria como fator para mudanças de paradigmas culturas que façam as pessoas convivem em harmonia recheia livros e filmes sucessivamente.

Bruno Ganz, ao contrário da sua terra mãe Suíça, encarna um circunspecto de loucura, com desejo, ao qual vemos que um líder pode conter a humanidade dentro do mais terrível traquejo, do afastamento atos racionais vindo levar, à compreensão aquilo que se venha a classificar como um expurgo de Deus, perante os pecados cometidos pela humanidade.

Ian Kershaw (1943), historiador inglês especializado na vida de Hitler, “coloca que o tempo de sua existência foi fator primordial para a construção da dádiva maligna do ditador, como um sinônimo de poder máximo”, perante um momento histórico onde as pessoas perdem o valor da destreza em se confiar a si mesmo, e sim necessitando da mentira como um sustentáculo para suas aguerridas onda de uma postagem comportamental a se fazer de coitado perante os desejos dos mais poderosos, ou seja, construímos como uma aquarela de Michelangelo (1475 – 1564), uma lógica de poder artístico e político, para que Hitler iludisse a humanidade e se colocasse como um arcanjo do sombrio, para favorecimento de um privilégio da não compreensão do ser humano pelo próprio ser humano.

O Hitler feito um cão amedrontado com medo da vingança stalinista, bem como assombrado com fantasmas de sua própria autoria, vem ao desfrutamento pelo qual a humanidade é engrandecida por demônios que ela mesma produz, e que cabe somente a ela trazer um incentivo para exorcizar, quinquilharias de probos profiláticos, de subjugar as vontades com ternura para melhorar a dor diante daquilo que não se pode explicar.

Em comparação com outros atores que fizeram do “fuhrer”, um caminho para um emaranhado de “labor”, a uma alternativa de afetividade que possa flexionar planilhas para novos entendimentos acerca do Nazismo, Ganz está para um sentido do neurótico, diante as ações interpretativas de Anthony Hopkins (1937), em “No Bunker de Hitler”(1981), ou Martin Wuttke (1962),  de “Bastardos Inglórios” (2009), dirigido por Quentin Tarantino (1963).

A personificação a um acontecimento de cunho ideológico, que faça da política o desalento perante a tratar uma natureza humana de maneira pacífica, em torno de setores, psicanalíticos que coloquem uma comunicação ontológica, faz de “A Queda”, um apelo para que a história reflita acerca de suas entranhas, em como contar algo que possa ficar mais próximo da cientificidade do que da indignação.

De certa maneira, o nacional-socialismo é fruto da crise da razão em que as primeiras décadas do século XX passa, fazendo um hoplito, diante a disseminação do sufrágio universal, como uma subjetividade que não ficasse adocicada pelo temor a um amor exacerbado pela pátria.

Tecnicamente a denuncia, reage a uma força psicomotriz cinematográfica, aos sacrilégios, de uma anunciamento, da grandeza do poder de escolha política que cada ser humano possui, mas, todavia, será que de uma maneira “confuciana” “a humanidade sabe excluir o mal e praticar bem, sabendo que o bem, e muitas vezes mal, estão posicionados do mesmo lado do jogo xadrez que os interesses de Estado possui?

O dragão da maldade contra o santo legado de libertação da exploração partidária, em um momento de profunda desconstrução filosófica, ao contrário em celebrar experimentalismos de possíveis nuanças do bem, Hitler se torna um comandante de uma tripulação desfigurada de respeito por si mesmo, que se faz iludir, ou gosta de uma bela  ilusão?

A época da ilusão, de um passado que se faz cada vez mais presente diante os sinais de atitudes filosóficas prolixas a um acobertamento da importância do “ser”, como um afeto da importância de um pelo outro.

A guerra é a incongruência de ideias que possam realizar um batistério de uma torrente ética a justiça e respeito, faz do cinema, usando das palavras do historiador francês especializado na sétima arte Marc Ferro (1924), “um audiovisualismo, com um gosto pelo nefasto”, sendo um colcha de pedacinhos de desesperança que se unem na indignação como forma de produção artística para um “pop”, que não possua fenomenologias do respeito pelo “diferente”.

Um holístico trato da confusão de ações e sentimentos aos quais, Hitler, surge, e também se pulveriza em uma tessitura da razão cativa, no pronunciamento de odes, de uma lógica psicológica que não tem lógica nenhuma.

É ilógico imaginar, uma prospecção que as trevas ocupem o lugar da luz, para uma produção social a uma arte, que busca no horror, um elemento para fugir do marasmo que a “indústria cultural” produziu.

Hegel (1770 – 1831) sentiria em uma “boca de sinuca”, com uma filosofia da história, que não contem história, e sim fossas do que indutivos utensílios de empirismo político rechaçados pela solidão do terrorismo psicológico.

A intermitência da razão, Hitler acossado, servido por coletivismos que a inconsciência, produz na maioria das pessoas, o desejo de comandar, autorizado pelo senso comum das pessoas mais simples.

John Locke (1632 – 1704) dizia “se nos alimentarmos de mel todos os dias, chegaria um momento que não suportaríamos se quer ouvir essa palavra”, então o Nazismo ainda não alcançou seu grau enjoativo de produção de novos protagonistas, deixando filhos como Mussolini (1883 – 1945), Salazar (1889 – 1970), Franco (1892 – 1975), Pinochet (1915 – 2006), Idi Amim (1925 – 2003), Pol Pot (1925 – 1998), Stroessner (1912 – 2006), entre outros, como símbolos da intolerância para que a humanidade se recorde  do monstro adormecido que cada um esconde dentro de si.

Como um “Mrs. Hyde” pronto a despertar, ou um “Hulk” cheio de raiva , que assim que sua explosão de raiva resolver dar as caras vai por toda a civilidade construída há séculos abaixo?

Sejamos senhores do nosso destino, não unicamente seus interlocutores, ou espectadores, não adianta demonstrar objetividade de uma maldade, a que não cabe uma clara explicação metafísica, ou intelectual.

Muito menos deixar de valorizar o quanto a “cultura” foi solidária em diretrizes de uma comorbidade entre heróis e vilões que fizeram parte dos ideários imaginativos da Segunda Guerra Mundial.

“A Queda” produz uma construção do fortalecimento de Hitler, para a sua proliferação para outras gerações, no que seja suplantado, como incentivo de que não cabe unicamente o povo decidir o que é certo ou errado.

Lembramos que o “carpinteiro de Belém”  foi crucificado pela voz do povo, e que o senhor Stalin, camarada do pintorzinho fajuto do III Reich, manipulou massas para esconder seus crimes.

E esse próprio povo se indignou diante as covardias de seus lideres.

Não cabe arquitetarmos um gerenciamento cultural, para uma tempestade de respeito, com um “bestiário” da convalescença mental, com gotas de um levedo libertário amargo, sendo a população diretamente responsável por se deixar iludir.

A erudição, como arma de disparates, nas centelhas do desdobramento antissocial do orgulho, do exacerbado domínio do homem em fazer do semelhante uma casa de espetáculos de horrores diante o marasmo existencial que compadece aqueles que ficam a margem do conhecimento.

Hitler jogou traços de uma cultura secular que foi iludida, ou quis ser iludida, para caminhos torpes, onde não há certo ou errado, e sim um nefasto desejo de se fazer o que a mente doentia de um paranoico deseja, e isso transpôs um cunho, de excentricidade para um condicionamento de fazer um cinema que esteja unicamente auspiciado na maldade tornando pilares para uma fartura de incredulidade.

Tanto que Ganz, encarna um personagem atormentado pelos seus  próprios fantasmas, que não consegue se dar conta do “real”,  estando no cisma do que poderia ser considerado como certo ou errado.

Maniqueísmo puro, provando de um gosto de sangue, amenizado pelo desejo que a humanidade se encontra em tentar entender como o “fuhrer”, podendo conceber um novo anticristo, misturando ideologias, levando a uma aglutinação do conhecimento para alimentar de maneira insana, seus mais sombrios tácitos, a uma doutrina reticente de elevar cunhos para o fanatismo.

Tanto que “A Queda” revela os últimos momentos a um sombrio momento de ontologia negativa, para enfileirar um traçado maldoso, longe da afetividade, onde não ocorre mais sentidos para erudição, e sim há destruição dos liames éticos de respeito de um povo pelo outro.

A nação se torna o parque de diversões das devassidões de Hitler, e a cultura transfigurada de mentiras transformou isso em conhecimento.

A antessala da loucura, caminhando para a psicose, onde o espanto se torna combustível para famigeração de um sentimento da inferioridade, nos autos, para minar qualquer caminho a uma liberdade que possua genes a integração entre problemáticas de aceitação em um multiculturalismo diversificado.

Hitler esgarçou como ninguém que o medo é uma arma poderosa contra aqueles que não obedecem as ordens de acordo com o que o “chefe” designa, e a cultura contemporânea o canonizou como um símbolo de louvor a incredulidade, mas com uma pitada de fascínio.

Afinal, um tirano da modernidade poderia alcunhar de maneira benéfica para as neuroses diárias dos seres humanos novos cumes para uma individualidade que se faça presente, mas ausente de complacência perante os mais abruptos surtos de miserabilidade em relação ao respeito pelo próximo.

O pop prestou um grande serviço a transformar o “bigodinho quadrado” como uma demonologia do racional, mas transformou o racional em arma para arquitetar o irracional.

Como diria Hannah Arendt (1906- 1975): “o impossível se tornou possível”, cabe agora fazer o impossível da igualdade, voltar a ser igual ao tratamento de respeitabilidade entre os povos, pois ainda existem insanos neonazistas a solta, compactuando o legado de Adolf.

Mixórdias de destruição à vista, viva a democracia, mas sem prognósticos totalitários, mas contendo autoridade e não leviandade.

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A Queda: As Últimas Horas de Hitler ( Der Untergang).
Filme com 2 horas e 30 minutos de duração.
Direção: Oliver Hirschbiegel  | Drama – Histórico|  Alemanha – Áustria – Itália | 2004.
Elenco: Bruno Ganz, Juliane Köhler, Alexandra Maria Lara

Sinopse: Traudl Junge (Alexandra Maria Lara) trabalhava como secretária de Adolf Hitler (Bruno Ganz) durante a 2ª Guerra Mundial. Ela narra os últimos dias do líder alemão, que estava confinado em um quarto de segurança máxima.