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Black Mirror | Toda a Sua História

Já imaginou a possibilidade de controlarmos nossa memória? No episódio “Toda a Sua História” isso é possível. Mas ela vai além do “só” apagar. A questão aqui é bem mais complexa.

Cada humano tem uma espécie de chip implantado atrás da orelha, por ele você acessa os dados da sua memória, analisa interações, vê emoções, e descobre tudo o que lhe é (in)conveniente.

Liam Foxwell (Toby Kebbell) e Ffion (Jodie Whittaker) formam um casal “feliz”. Eles tem um bebê, tudo vai bem em vossas vidas. Até que um dia ela vai em uma festa onde Jonas (Tom Cullen) está, ele é um velho amigo, mas é daqueles bem exibidos. Fala de sexo abertamente, vive fazendo piadinhas e, ainda, rouba a atenção da Fi para si.

Isso deixa Liam com ciúmes. Então, graças a tecnologia, ele acessa os dados de sua memória e fica analisando tudo o que aconteceu durante a festa. Nela ele vê os sorrisos bobos da sua mulher, a pele arrepiada perto do rapaz, o tom meigo com que ela conversa com Jonas e, ao mesmo tempo, o tom rude quando fala com ele. Enfim, todos os sinais de uma possível paixonite.

Já pensou jogar sua memória na tela de uma TV e ficar revendo várias vezes?

Liam resolve apurar os fatos, ele consegue unir violência com inteligência (isso é possível?) e descobre tudo o que queria (e o que não queria também).

Aqui entra a questão inicial do post. Já imaginou a possibilidade de controlarmos nossa memória?

Pois bem, seria muito bom podermos colocar nossas interações na tela de uma televisão e analisarmos nossos erros. Poder notar cada mínimo detalhe das coisas, ver e rever aqueles momentos inesquecíveis, os quais, muitas vezes gostaríamos de viver todo instante.

“Você sabe que encontrou a felicidade quando vive um momento que não quer que acabe”. – Clóvis de Barros Filho.

Mas imagine o quão controverso seria isso. Você fez algo de errado, apaga a memória e “já era”. Seu pai morreu? Não quer sentir dor? Exclua os dados. Foi traído? Não se enfureça, exclua os arquivos da memória e siga em frente.

O que faz a vida ser tão cruel, porém, tão bela? Simples, o ineditismo.

Tudo é novo. Vivemos alegrias e tristezas, passamos por vitórias e derrotas, aprendemos com nossos erros, assim conseguimos nos tornar pessoas melhores.

Que tal arrancarmos nossa memória?

Qual seria a lógica de retirar um pedaço da sua memória por ser doloroso? Não sentir dor? Tá! Mas por quê? Qual o sentido disso? Cometer o mesmo erro e sentir a mesma dor?

Você pode até dizer que esquecer uma morte é bom. Mas automaticamente você esqueceria todos os valores éticos e morais que aquela pessoa lhe passou, todos os momentos alegres, enfim, você esqueceria sua vida.

Toda a Sua História mostra que o controle da memória é algo que não daria certo, pois, qualquer desconforto seria motivo para mudarmos nosso passado. Com isso só teríamos pessoas sem história. Mas, pensando bem, mantendo as proporções, hoje já vivemos em um mundo onde muitas pessoas não tem história, apenas seguem o fluxo e fazem o que a sociedade impõe.

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