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Euro-Cine | Minhas Tardes com Margueritte

Opinião com Café.
Clayton Alexandre Zocarato.

A obra cinematográfica “Minhas tardes com Margueritte” (2010), possui uma forte conotação ao existencialismo sendo que ao enfocar amizade do antagonista Germain (Gérard Depardieu) (1948), com Margueritte (Giséle Casadesus) (1914), procura elucidar uma parcimônia entre um o ser – ontológico, procura um sentido para a vida, incrustado na ignorância de uma existência rude sem perspectivas de mudanças, que encontra na leitura um caminho para dias melhores.

A obra possui uma forte conotação a esmiuçar uma “história da leitura”, como alicerce a formação de uma gênese mental voltada para a criticidade, e ao próprio fator inconsciente, em demonstrar um grau de crítica a uma cultura erudita, com níveis de atividade humanista em conter flagelos a uma filosofia que possa oferecer um sentido de compreensão do mundo.

Germain vem a representar o espectro do “homem precário” (1972) descrito por Andre Malraux, a um baluarte de estereótipos linguísticos em desatinar um conhecimento que possa oferecer possibilidades de ascensão social, e ao mesmo tempo reconhecimento como condição humana, para os mais necessitados, fugindo de mazelas preconceituosas de uma educação elitista, forjando um batistério de nichos comportamentais que venham a levar lapidações mentais em alvorecer camadas de nuanças, descritivas de uma “pedagogia do eu” esgarçada a mentalidades esdrúxulas nos quesitos de importância com as vivências com o outro.

Vejamos que no enlace da trama, Albert Camus entra em “cena” com sua tríade do absurdo, “A Peste”, “A Queda” e “O Estrangeiro”, engendra a colocar no espaço cinematográfico um caminhar de silogismos a uma lógica hipotética, de aceitação social por parte a um signo de compreensão de formação intelectual que não fique apenas na elite burguesa-industrial, de andrajos escolares das classes sociais abastadas, donos de portentoso clivo do conhecimento literário e filosófico hermético entre seus próprios membros.

Dentro dessas premissas educativas, encontramos bojos de simulacros educativos nas interfaces psicológicas em levar a diferentes esquadros de protagonismos sociológicos que possam virem a gozarem da “informação”, que eleva a obra cinematográfica a credos de lutas ideológicas, entre o conservadorismo e a diluição de barreiras de jugos assimiladores a letramentos comprometidos com asserções subjetivas defronte os perjúrios de uma “indústria cultural”, vilipendiada ao controle e destruição do “eu maiêutico”, levados a vaticinarem diferenciações de realismos comportamentais na sociedade, que proclamem diretrizes alucinantes de ornamentos decadentistas na importância de uma ética do saber, que promulgue auspícios de sobriedade filosófica.

Margueritte para a didática de um ensino de filosofia esboça uma tentativa e alucinante potencialidade de testemunhos a convivências entre o “simples e o erudito”, sem barreiras a lastros doravantes de percas introspectivas em cunhar produções de intelectualidades dialéticas, no estanho em melindrar atividades primordiais a cataclismas de habilidades psicológicas que possam proporcionar interações sociais entre diferentes classes.

A Leitura, e como essa Leitura, venha postergar devaneios de rebeliões de contrastes entre divulgação e produção de tessituras escriturais polivalentes e analíticas, em múltiplos cenários sócio-históricos, aos qual a vida de Germain assistiu de maneira onipresente, desapercebendo sua importância e sua validade como indivíduo desvinculado dogmas interpretativos, que não venham dosarem tolerâncias aos resquícios de poder, diversificando turvos que lancem sínodos de esperança para setores menos favorecidos da sociedade, ao assimétrico alicerce unitário do devaneio em eliminar artífices a deificar junção entre arquétipos de emulação “ativo” entre a “práxis” de ensino e pesquisa focados ao bem-comum, com rigidez empírica.

Margueritte é um prelúdio de ação do guerreiro intelectual, que venha a angariar preâmbulos de um nostálgico, mas, todavia nobre, ativismo de ações cognitivas que busque através do manuseio de palavras, extenuarem pensamentos lisonjeados na hermenêutica, a ramificarem silos de combate, as excludentes jactâncias de novelos aglutinadores no usufruto do lampejo maravilhoso a levar caminhos de esperanças, no crescimento personalista e moralista, diante das mazelas da modernidade, que não discrimine e subjugue adventos ao conhecimento que venha oferecer, servilismos de um escaldante antropo em almejar formação moral, com conhecimento filosófico.

Margueritte pode sofrer comparações, com os prognósticos apresentados pelo  filósofo catalão Raimundo Lúlio no século XIII, em sua obra aforística “O Livro do Amigo e do Amado” (2005), em que trás a tona, indicações da importância da amizade com cunho cristão, que venha a fazer da união fraternal entre as pessoas, um sustentáculo de concluir sanhas a relacionamentos humanos entre mestre e aprendiz, que não fiquem acorrentados às barreiras de focarem prognósticos de autoridade, e sim que fatores de ternura da amizade fiquem no registro de traçados recíproco de afetividades, de uma pessoa pela outra.

A liberdade de interpretação, em levar em “As Tardes Com Margueritte”, um conhecimento que busque cadenciar tenazes arcabouços a eliminar um ensino, focado na historicidade rígida da posição do “professor”, diante da incredulidade estudantil em expor suas convicções e idealismos, emoldurando conflitos escatológicos, nas fronteiras entre a transposição da erudição e em tangenciar vergastas a uma transmissão de suplantações de aprendizados, que tanto levem a linearidade neuropsicológica, a operar uma biologia mental, que promova fugas a ideários pragmáticos de informação que possam alvorecer, organicidades do conhecimento dialético.

Nisso, o combate intrépido na monopolização de um saber, que realce, esqualos de uma arte de labutas intelectuais permissivas de tendências manipulativas, contamina elementos de combates a protuberâncias a um estrangulamento filosófico, que venha a sanar dificuldades, a torpores de um pluralístico traquejo mórbido, na concentração do saber, como uma metáfora reducionista de possibilidades em angariar oferecimentos de oportunidades de disseminação da leitura e do saber para todos os espaços sociobológicos.

Germain é fruto de uma civilização, laureada pelo “bem tecnológico”, que não agasta meandros, a fuga do existencialismo caótico representados pela utilização dos perniciosos placebos teóricos “camusianos”, outorgando um flagelo de providenciar ações humanísticas não aquarteladas no exclusivismo de ações materiais, e sim a um campo de organização como “ser – ativo” na sociedade aos quais esteja em condições de igualdade a acalentar honoríficos estalos a gnose de produção e contenção de paladinos deslumbres de adquirir uma inteligência que venha somente a completar sua parca concentração de preâmbulo humanístico, a um volumétrico personagem sombrio de usufrutos burocráticos a bajular deismos psicopatológicos de relacionamentos humanos, que possam chafurdar mais um “Zé Ninguém” (1977) utilizando do auxílio do personagem descrito como exemplo da imoralidade da sociedade capitalista, descrito por Wilhelm Reich.

Germain é um bom exemplo de como a educação possa a vim gerar frutíferos estrados de metamorfoses cambaleantes a projeção lingüística, a evidenciar uma “estética – filosófica”, de um jogo intersubjetivo, a esbravejar uma pedagogia que não apenas, irrompa aos desejos de busca da felicidade através do dever cívico em procurar saberes que possam adentrar na elevação do indivíduo em escala social, bem como as permutas a multiplicarem antagonismos de atividades léxicas e argumentativas e contra-argumentativas aos fluxos comportamentais prevaricados na busca de um bem informativo integrado entre empirismo e interpretação analíticos.

A estética cinematográfica de “Minhas Tarde Com Margueritte” clareiam as possibilidades a enunciarmos atividades de ensino, tanto filosóficas, como sutilezas a um intercâmbio de paralaxes informativas, fazendo uma educação que venha através de propostas sintetizantes de crítica, organizar esquemas representativos para que os estudantes adquiram ângulos, em torno aos liames entre uma vasta letargia a combater a inferências de preconceitos em relação ao ensino de filosofia, ficando somente estrito a atávicos espaços de circunspectos frenesis de fugas comunicativas recheadas de termos técnicos específicos a uma determinada área da filosofia em especial, como também remediar atenções para entendimentos entre argutos de tonalidades de despertar interesses a uma didática que possa levar variados cumes do ensino filosófico processado na argúcia da produção e assimilação de racionalidades antenadas com realidades sociais vivenciadas e existenciais dos estudantes.

Estamos diante de um Germain, que venha a consolidar-se como uma caricatura alegórica, de como a atividade leitora deveria ser tratada em nossas escolas, não somente vindo a realizarem congruências de recepção das letras e na repetição de conteúdos, e sim com habilidades de um descobrimento dos universos psíquicos, paralelos a somáticas lufadas a arquitetar novos teísmos de artimanhas para um progresso de verborrágicos alamos de escrita e informações que coabitem em um mesmo circulo epistemológico de conhecimento, diante das incertezas de ciclos de argüições pessimistas do homem pelo próprio homem.

É notório jogar luz, em um letramento cônscio em ornamentar justaposições a eloqüência em compreender a “informação”, em conluios que não fiquem na restrição do universo acadêmico, rechaçado a pródigos deleites, em “desconstruir”, deificações de exclusivismos do saber em virtude do rigor métrico da universidade.

É a estilística de uma percepção de comunicação leitora ao qual Germain esta envolvida por Margueritte, em professar tanto a necessidade de mudar seu “ser” mental, arredo a uma vida de momentos psicológica violentados por máculas de discriminações subsidiadas pelo desprezo de seus familiares, bem como seu porte físico obeso, levando a minguados de coerções mentais, que possibilitem regozijos em aceitar sua condição física e mental, porém com a esperança de transgressões psicológicas centradas a mitigarem suas ipseidades de complexidades perante as outras.

O espaço de “Minhas Tardes Com Margueritte” coagula uma luta incessante, na busca angustiante do “home-rude”, pela percepção e aceitação perante um colossal desempenho de enteléquias ovacionadas em realizar uma “concentração de ensino-aprendizagem” somente na memória individual de cada pessoa, sem um compartilhamento de experiências e ações, que ofereçam a chance de mudanças de posicionamentos sociais e políticos.

A película é uma ótima oportunidade, tecer sabujos de um conhecimento filosófico que leves destrezas, entre argumentar com base teórica de informação e conteúdo, como a criticar com embasamento científico e filosófico não coordenado a jargões populares, que submetam a ditames anuários de provocações somente ligados ao senso-comum dos indivíduos.

Germain, analogicamente representa um conteúdo marxista de tirar o trabalhador do seu listo burocrático de cumprir ordens, e levar-lo um quixotesco espasmo intelectual, em comprometer seus afazeres, com a luta por liberdade de expressão que possa tanto alojar gânglios de lisuras entre estoicismos de busca da informação e ao mesmo tempo, uma insurgência de luta contra a eliminação de afeições do trabalhador, como uma classe cultural, com afeições de identidade histórica entre produtora de conhecimento e receptora de intelectualidades que propiciem seu sumo, como rompedora de clemências informativas, destinadas a um “totalitarismo do saber”, somente ligadas a escamos paupérrimos de sociabilidade específica.

Dentro da educação, Germain esgarça uma gênese de atividade psicológica, na similitude de buscar uma felicidade, em determinados pontos nefastos do melhoramento material e moral do “homo-sapiens” através dos tempos, cabendo resplandecer uma casuística, entre a imposição da erudição destinada ao esfacelamento da produção intelectual do trabalhador, e seu afastamento a oportunidade de uma “maioridade”, na sua emancipação diante de engrenagens a recursos nas artimanhas em reproduzir conhecimento que possa tanto trazer conteúdos para uma cidadania participativa, como de encontrar-se diante de meritocracias em honrarias emocionais e intelectuais, destinadas a uma educação que não seja técnica e tão pouco escamoteadas a plutocracias de consolidação entre o “entendimento e a razão”.

Dentro de um cenário sombrio, onde Roland Barthes proclama “a morte do autor” (2004), parafraseamos o perigo a contemplarmos também a morte do leitor crítico, que busque novos prazeres de entretenimento e conhecimento, estagnados nos livros, e que diante das novas mídias, sua leitura depara-se com adversários sinistros, em provocar seduções de coeficientes mentais que venham a aventura-se pelo primor de elementos discursivos e narrativos, que possam despertar andrógenos recursos na elaboração de novos personagens humanos leitores, e também que fale do universo da literatura, como a de outros saberes, nos dutos de gerar compêndios informativos, com lascivas senilidades no aprimoramento de uma ética de preservação e produção, de criacionismos de logísticas de informação que possam levar consciência crítica entre a imagem, leitura e som.

Germain assim como Margueritte, é um paradoxo, entre a decadência de uma sociedade computacional que perde conscientemente seu valor como modelador de trocas simbólicas e subjetivas, e da instrumental necessidade de balbuciar a formação intelectual como resolução de depressões comportamentais incutidas “no viver o agora, e esperar o depois”, como a encadear um anuncio de burocratização que controle os grupos sociais menos favorecidos, também a uma educação que não venha esta no álamo em projetar suas atividades a “ideologias oficiais” de normas estatais, e sim que o saber venha a elencar seus frutos em dialéticos espaços de geração entre trocas de replicantes sulcos do respeito e importância pelo próximo.

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Minhas Tardes com Margueritte (La Tête en friche)
Filme com 1 hora e 22 minutos de duração
Direção: Jean Becker | Comédia – Drama | França (2011)
Elenco: Gerard Depardieu, Gisele Casadesus, Sophie Guilemin

Sinopse: Uma história sobre os encontros inesperados da vida. Germain (Gérard Depardieu) é um iletrado e solitário homem. Para preencher suas tardes, ele faz amizade com a senhora Margueritte (Gisèle Casadesus).