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Euro-Cine | Drácula de Bram Stoker

Opinião com Café.
Clayton Alexandre Zocarato.

Drácula, realizado por Francis Ford Coppola (1939), levou para níveis estratosféricos em como realizar o gênero terror, com uma pitada de drama, unindo uma busca existencial, que ultrapassa a compreensão do real, e sua relação direta com o abstrato, na formação de um pensamento lúdico, que não fique unicamente prezo a um espaço cinematográfico do medo, e sim buscando artimanhas para uma arquitetura  de moral e ética diante do insólito e grotesco da modernidade

A transformação ao qual o personagem principal passa indo da forma cadavérica e anciã, para a licantropia, bem como seu rejuvenescimento, habita uma busca filosófica em que cada um de nós possui algo de diferente, que mudamos constantemente as escamas de nossas vidas, comprometendo um grau de instrução pelos quais possamos lançar estruturas de um pensamento, que não esteja inteiramente focado nas métricas a uma natureza do pensamento, que possa realizar uma metafísica ao mesmo tempo em que esteja no degrau de um ativismos em torno da defesa do “diferente”.

O elenco estelar do filme ao qual Gary Oldman (1958) encarna o “personagem dos Montes Cárpatos”, tendo a contribuição com a participação de Anthony Hopkins (1937), como doutor Van Helsing, o algoz central do ícone vampiresco, engrandece ainda mais Winona Ryder (1971) e Keanu Reeves (1964), como Mina Harker e Jonathan Harker.

De todas as filmagens protagonizadas em torno da obra do escritor irlandês Bram Stoker (1847 –  1912), Coppola conseguiu uma replicabilidade genial em torno de sua narrativa, misturando desde a magia, a sexualidade robusta (distante do vulgar), com um comprometimento no espírito devaneio, a uma sociedade próxima do novo milênio, enrubescida por um caminhar de moralidade, realçado pelo tom em satisfazer seus desejos acima dos princípios dogmatizantes empenhados pela Igreja Católica, bem como lançar, uma aquiescência na ética de construção ideológica, aos quais as regras estão comutadas a serem quebradas, e a fazer do “indivíduo”, autor principal de seu destino independente das vontades chafurdadas por prognósticos aos seguimentos de uma conduta que reprima os desejos.

O “desejo” voraz e até psicótico de Drácula por Mina, foi uma característica marcante de um “Romantismo”, com listo, de possessão extrema, ao qual não basta somente em ter o ato carnal consumado, e sim possuir “o outro” de todas as formas possíveis, levando uma libido, na labuta de um pensamento, que faça do próximo, um cadafalso de emoções, saciando todos os prelados da solidão.

A solidão ao qual Drácula procura se distanciar, desfruta de conteúdos para uma argumentação de união entre “o bem e o mal”, realizando uma lapidação ao qual o “ser – humano” não “está livre” plenamente em toda a sua plenitude de vida, sendo necessário haver um idealismo de reger uma lógica comportamental da felicidade, que esteja submetida a combater um “cancro”, de se ver preso a um sentimentalismo, que posa desviar dos seus objetivos mentais e satisfação de suas vontades pessoais.

Oldman empreendeu um “ar” de interpretação cujo seu desempenho pode a vim elencar os princípios do teórico de teatro russo Constantin Stanislavsky (1863 – 1938), em romper a “terceira parede” do espetáculo, havendo a projetar uma arte que provoque os mais polivalentes signos, a uma subjetividade contendo languidos de uma construção na uma luta incessante de uma irrupção a questionamentos em torno, a uns ciclos de terrores, orquestrados por uma civilização preza na aparência, escondendo a sua face gélida de preconceitos e discriminações, conforme a conservação das tradições e manutenção de sistemas sociais controlados pelo poder material.

Diferente do conterrâneo Christopher Lee (1922 – 2015), que levou oitos vezes o papel draculesco para o cinema, Oldman abusa de expressões faciais, unido a uma circularidade de movimentos psicológicos, que fazem diâmetros entre loucura do amor, com uma vontade imensa de imortalidade, porem não ficando longe de se deliciar com as “tentações da carne”, ou seja, o tempo da eternidade é imiscuído com o delineamento da razão em busca de uma volúpia sem precedentes em atender suas artimanhas pessoais, realizando um humanismo nefasto de busca na felicidade sexual confundido com ternura “enamorada”, como um sentido para as soluções de seus dramas pessoas.

Um “humanismo” carregado de rancor, estridente de uma transposição comportamental, leva a um principio nietzschiano do “anticristo”, tanto na face de louvação do pecado, como a estornar os desejos mais viris e sádicos, escondidos em torno da mente, destruindo o limite entre a moral e os bons costumes, saboreando sua “sede”, por sangue.

Na época de seu lançamento, o ambiente histórico ornamentado em uma ética carente de princípios, moduladores de um caráter contendo responsabilidade civil, tendo na Primeira Guerra do Golfo (1991), e a dissolução da URSS (1991), e os anúncios a uma Nova Ordem Internacional, o estouro da Guerra Civil na antiga Iugoslávia (1991 – 2001), bem como os escândalos de corrupção no Brasil com o governo Collor (1992), projetando crises galopantes na economia, fazem do “Conde Drácula”, uma mistura nobiliárquica, entre os anseios da classe abastada e letrada, em promover recursos para auxiliar a população mais carente, e concomitantemente uma descrença no nivelamento moral e ético que possa alojar detrimentos a uma higienização mental de bons princípios e respeito por todos os anunciamentos personalistas.

No cenário comparativo histórico em torno as ações psicológicas no sentido analítico entre os dilemas da existência humana, em uma pujança de se fazer entender diante os cenários caóticos de responsabilidade civil, o “eterno príncipe das trevas”, não passa de um personagem que procura se fazer perceber diante as ambivalências do “amor”, ao qual deixa um gosto amargo de insatisfação em ter suas vontades atendidas, ou até mesmo realizadas.

E conforme a figura de Van Helsing ganha destaque com seu lado metafísico, e até mesmo científico, um fatídico enredo da luta entre organizadas  premissas da burguesia inglesa do século XIX, contra um mal, cunhado em uma vingança contra as vontades “Deus”, compromete uma flacidez no diálogo, aonde as frustrações individuais não venham a conterem um discurso de distanciamento, ao principio ético de realizar nas satisfações da “alma”, como uma ação existencial de se perceber perante o “outro”.

O curioso é que mesmo dentro de um espaço cinematográfico recheado por emparedamentos sociais, políticos e religiosos, um certo gosto a comicidade excêntrica de Coppola está presente durante os diálogos entre seus personagens, não é de fato que isso inspirou Mel Brooks (1926) (famoso por seus filmes satíricos, como Banzé no Oeste e O Jovem Frankenstein, ambos de 1974, e S.O. S – Tem um Louco Solto no Espaço, de 1987) em 1994, rodar um versão cômica de “Drácula Morto Mas Feliz”, contando com a participação de Leslie Nielsen (1926 – 2010) no papel principal, deturpando em atos de atuação fanfarrona perante a presença e imagética maligna do famoso Conde.

Houve a partir de “Drácula” um revalorização aos filmes vampirescos, pelos quais podemos contar com “Entrevista Com o Vampiro” (1994), onde a beleza masculina e o gosto do “pecado”  foram levados à telona através das atuações de Tom Cruise (1962), Brad Pitt (1963), Antonio Banderas (1960) e Christian Slater (1969), passando pelo pastelão vampiresco de Eddie Murphy (1955)  “Um Vampiro no Brooklin” (1995) chegando até os anos 2000 com as sagas adolescente “Crepúsculo” (2008, 2009, 2010, 2011 e 2012), e as produções abusando dos efeitos especiais como Underworld (Anjos da Noite) (2003, 2006, 2009, 2012, 2016).

A combinação entre beleza e maldade bajula um campo de produção do cinema pelos quais os vampiros estão na ordem do dia que relembram o poder da tentação do “corpo”, o que não deixa de conter um caminho para uma crítica aos padrões do “efêmero”, na substituição de valores a uma condição humana que não quedasse subjugada a sua carência em aceitar o “diferente”, não como algo animalesco e sim que possa emergir a um ato civilizatório de aceitação, do exótico e grotesco, não “sugando” energias para reunir paralelos de atividade mentais, buscando colocar todos dentro de um mesmo traçado de aceitação e reconhecimento social e de “status material e intelectual”.

A critica ao hermetismo de grupos humanos selecionados a ocuparem um lugar destaque na sociedade faz com o que o apreciador atento veja Drácula como algo que fuja as tradições dos filmes de terror, estando subsidiado a disseminação do medo como uma única fonte de transposição psicodélica, que cause a escravização mental do espectador, em um caminho de realizar uma admoestação psicológica, e sim possa tanto conter bons sustos, como ter um olhar do príncipe das trevas com um carinho e até compaixão diante sua condenação a desgraça eterna por se render ao amor carnal.

A “carne”  em uma concepção “Naturalista”, unida ao conceito de “Cultura Pop”, produz semânticas de uma filosofia do “eu”, enraizada na racionalidade contra a maldade extrema, ou seja, Drácula possui seu lado bom, porém sua obsessão por Mina o deixa longe da luz, sendo ofuscado pela sua aparência diabólica, e na ambição de busca da fonte da juventude através do sangue de suas vítimas exala como um pária para os bons costumes, sendo necessário extermina-lo de vez do convívio entre os homens.

O pensador alemão, Immanuel Kant (1724 – 1804), “coloca a mente como algo cíclico, estando ela mais projetada para acontecimentos futuros do que o momento histórico ao qual esteja vivenciando”, Drácula passa boa parte de sua condenação como “morto vivo”, a sentir as argúcias da solidão e imaginando se vingar da cristandade, bem como aperfeiçoar o gosto do amor, e do coito, como uma arma de blasfêmia perante os séquitos da moralidade católica, usurpando um exalo de pureza nos relacionamentos, conclamado em sua totalidade mental, aos desígnios da satisfação do sexo, e de seu desafio ininterrupto a Deus.

O “próprio rei dos vampiros”  possui a indecência humana, de viver com sua infernal mente a frente do seu tempo, sempre em busca de realizar o “seu ser”, um palanque psicanalítico de espalhar os resquícios de uma vida, enclausurado dentro do seu próprio ódio, e alimentando esquivos a uma conscientização, ao qual seu mal volta para si mesmo a cada momento, no ritmo de uma inconsciência senil, de está sua liberdade, alimentada por irrisórios clivos, à procura de um inimigo eterno, e no intrépido desejo de uma “guerra eterna”, não havendo caminhos para uma “paz perpétua”.

O eterno é algo intrínseco dentro dos trabalhos de Francis Ford Coppola, pois se pensarmos em suas obras como: Apocalypse Now (1979), e a trilogia de O Poderoso Chefão (1972, 1974 e 1990), a amargura da existência está no reflexo de uma humanidade que não consegue entender a si mesma, e busca na guerra e no gosto da barbárie, eleger novos protagonismos de uma constituição espiritual, que tire do marasmo a planejamentos de escrituras intelectuais, como anunciamentos propedêuticos que não possam promover uma real transformação nas maneiras da civilização humana, tratar a si mesmo e reconhecer seus fracassos em buscar a felicidade de todos, muitas vezes agastados por mesquinharias a um suicido moral organizado por alas econômicas e políticas, fixadas acima do poderio de relacionamentos socioafetivos que estejam ao alcance da maioria das pessoas.

Drácula coloca uma representação do que há de mais escroto dentro dessa raça que a ciência comensurou a chamar de “humano”.

O lado sombrio que cada um de “nós carrega” está alijado na luta constante para saciar nossos prazeres, e justificar as ações individualistas, no desprezo pelo respeito por aqueles que não podem dentro das suas habilidades mentais precaver algum grau de defesa, e que, todavia provoque, uma promoção do bem querer, sacralizado a um banho de injúrias impetuosas do orgulho humano em satisfazer todas as suas ansiedades.

O efeito filosófico que encontramos ao assistir um incólume desejo de felicidade na conquista de um grande amor, bem como a carência em perceber o livre arbítrio e de cada um, deixa o “Conde”, com sagaz contraponto de sua ferocidade intelectual e moral, com um sopro do mimo contínuo e vitimização, que são marcas características de  uma juventude, quando arranhada pela imposição em conter seus desatinos realizados a todo custo.

O Conde ou Príncipe das Trevas seria um garotão mimado então?

Não deixa isso de ter primazia, já que Oldman faz um jogo interpretativo em deixar a maldade com um cunho de ternura, e o amor com um concentrado de ódio, pois afinal, os desejos humanos são as mais reluzentes fraquezas que cada de nós mortais possui, quando não temos nossas vontades realizadas, o que não difere muito do odor violento e doentio de Drácula, em buscar seus objetivos custe o que custar, demonstrando um total desprezo pelos humanos, e até por si mesmo, no seu maníaco intelecto de cortejar Mina Harker.

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Drácula de Bram Stoker.
Filme com 2 horas e 10 minutos de duração.
Direção: Francis Ford Coppola | Drama – Terror – Romance| EUA – Inglaterra e Romênia (1992)

Sinopse: No século XV, um líder e guerreiro dos Cárpatos renega a Igreja quando esta se recusa a enterrar em solo sagrado a mulher que amava, pois ela se matou acreditando que ele estava morto. Assim, perambula através dos séculos como um morto-vivo e, ao contratar um advogado, descobre que a noiva deste a reencarnação da sua amada. Deste modo, o deixa preso com suas “noivas” e vai para a Londres da Inglaterra vitoriana, no intuito de encontrar a mulher que sempre amou através dos séculos.