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Opinião com Café | Amarelo Manga

Alguma vez você já assistiu algum filme que te incomodou? Então, esse longa vai causar essa sensação em você.

E quando eu digo incômodo, não quero dizer que o filme seja ruim, pois não é…

É melhor ouvir amargas verdades do que doces mentiras.

Quando sentamos para ver um longa, dificilmente queremos ver “a vida como ela é”. Nós queremos um pouco de ficção para tapar a dura realidade de nossas vidas, porém, quando ligamos a TV, e “Amarelo Manga” começa, a realidade da vida é cuspida em nossa face e, por pior que seja sua situação, você ficará incomodado de ver aquelas quase duas horas de trama.

Ou será que você não ficaria indignado ao ver Lígia (Leona Cavalli), dona de um bar que sofre com os abusos dos clientes, alguns deles não ficam só nas palavras e partem para o contato físico, para piorar, ela sabe que nunca sairá dessa vida, e seu único alento é esperar a chegada da noite para ter um pouco de paz.

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Em outro ponto do subúrbio de Recife você irá encontrar Kika (Dira Paes), uma santa perante os olhos do infiel marido Wellington (Chico Diaz). Canibal, como é conhecido, trabalha em um matadouro, só que mesmo sabendo que sua mulher é fiel e religiosa ele não resiste aos prazeres da carne.

O longa ainda nos apresenta Dunga (Matheus Nachtergaele), um rapaz mil e uma utilidades no hotel Texas, ele é apaixonado por Wellington, mas sofre grande discriminação por parte de todos do hotel, sendo muitas vezes mal-tratado. Não vamos esquecer de Issac (Jonas Bloch), o típico machão brasileiro, xinga Dunga de todos os nomes, dá em cima Lígia, mas seu grande prazer é atirar em defuntos e sentir o gosto deles, sem contar que o machão se revela na cama.

“Amarelo Manga” é pobre, é cruel, é realista, o filme teve cerca de 500 mil reais para ser produzido, um orçamento irrisório para produção de um longa, e com tão pouco dinheiro o diretor Cláudio de Assis teve que fazer milagre, e ao contrário de Dunga, que frequentava um terreiro para conseguir Wellington, Cláudio usou da mais crua realidade brasileira.

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“Amarelo Manga” mostra tudo o que não queremos ver.

E se você me perguntar sobre as atuações, lhe respondo que fica em segundo plano, mas para que você saiba um pouco mais… Matheus Nachtergaele é seguro em seu papel, só que ele tem uma pitada de exagero em alguns trejeitos. Leona Cavalli nos apresenta uma personagem totalmente devastada pela vida, sem prazer nenhum, e com um grande mau-humor, sua atuação tem uma dose de exagero em alguns momentos também.

Chico Diaz e Dira Paes seguem o mesmo ritmo dos demais, porém sem tanto exagero, já Jonas Bloch certamente é o personagem que mais repulsa vai lhe causar, ele é machista, homofóbico e violento, mas na realidade ele é enrustido.

A fotografia amarelada trás mais pobreza para o cenário, se prepare para vários palavrões, cenas contendo nudez e diálogos banais.

“Amarelo Manga” é um dos filmes nacionais mais complexos que já assisti, até agora não sei dizer se amei ou odiei a trama, pois a sensação que o diretor causa no telespectador não dá para ser descrita, ou melhor,  sei que não ficamos indiferentes com a situação, porque em meio a tanta pobreza, tanto problema, você esquece tudo que lhe cerca, e ainda nota que em meio a podridão o ser humano consegue ter uma pitada de doçura, mesmo que a maldade se sobressaia.